Medicina Tradicional

Antes da medicina se tornar um grande negócio, a natureza era o médico(a) primordial. Em certa medida ela ainda é, se considerarmos que 25% de todas as drogas usadas em 2021 são derivadas de plantas encontradas na Amazônia. A medicina ocidental traz muitos benefícios, mas não carece de problemas como efeitos colaterais adversos, custo e acessibilidade. Esses fatores levam as pessoas a reavaliar os saberes tradicionais e locais. Esta seção é sobre os conhecimentos tradicionais. As influências são várias (indígenas, latinx, africanas), mas as curas tradicionais influenciadas pelo shamanismo ou curandeirismo continuam a ser uma opção primordial para os cuidados com a saúde em algumas comunidades. Elas são frequentemente estigmatizadas no campo da medicina, mas “a prática permite que muitas famílias preservem elementos de suas culturas, crenças e identidades como práticas tradicionais de cura transmitidas de geração em geração” (Sanchez, 2018: 149). As seguintes obras ajudam a compreender diversas opções naturais de cura.

El tratado breve de la medicina y de todas las enfermedades (1592), de Agustín Farfán, examina remédios locais para as comunidades de províncias que não têm acesso fácil a médicos. Farfán, que já havia publicado um livro sobre cirurgia e era considerado um expert na época, explica as propriedades curativas de diversas raízes, plantas e animais. Seu livro foi uma alternativa prematura nascida da falta de acesso, mas essa mesma falta de acesso continua sendo um problema no século vinte e um e as opções de tratamentos alternativos continuam a permear os estudos.

O Matuto e o Cigano ou as Plantas Medicinais (1983), de José Costa Leite, e Grow some shit (sem data), de Victoria DeLeón, oferecem inflexões modernas sobre saberes tradicionais. Em O Matuto, um agricultor censura uma cartomante pela oferta de uma consulta, dizendo que só precisa de Deus e de certas plantas para se manter saudável.

A e-zine didática de DeLeón mostra como cuidar de uma planta (aloe vera, ou babosa) e como a planta retribui os cuidados. O trabalho dela é um dos muitos que cavam espaço e participação para as mulheres na medicina e dá ênfase às curas tradicionais. Earache Treatment/ Ventos” (2007), de Carmen Lomas Garza, rememora um uso secundário de jornais para criar funis que sugam a umidade que provoca a dor de ouvido. Essas obras postulam o conhecimento não apenas dos saberes tradicionais mas também dos saberes multigeracionais que são compartilhados por famílias e membros de comunidades com curandeiros e parteiras. Em Partera (1993), aqui exibida em espanhol e zoque/soteapan, a oradora conta a história do papel desempenhado por sua avó parteira.

Foram vários os rascunhos de "Curandera" (1981) e nessa obra Carmen Tafolla fala do espaço feminista ao trocar fluidamente do inglês para o espanhol para descrever os poderes do sujeito. Em "Medicine Poem" (1981), Carmen volta ao tema da doença, dessa vez emanada da injustiça e da opressão prevalentes.

Terminamos esta seção com Crystal Zine (sem data), da Colectiva Cósmica, que considera os poderes curativos dos cristais como alternativa popular da medicina por suas propriedades energizantes e curativas e promoção de equilíbrio e harmonia.